Gugu : o poodle.


Vou iniciar pela trágica história do Gugu, o meu poodle.
Quando eu tinha uns 4 ou 5 anos, bem lembrados por sinal, eu ganhei um poodle zero.
Batizei-o de Gugu, ainda não recordo-me o motivo de tal escolha, afinal não gosto desse nome, mas penso ser pela fácil pronúncia . Ele era como muitos poodles, bem peludinho. Seus pêlos encaracolados e brancos como a neve, eram muito macios. Recordo-me de sempre dormir com ele no meio dos brinquedos.
Eu assusto-me muito com a capacidade da minha memória. Mas na vida, há sensações ou momentos que marcam tanto, que chegam a tornarem-se inesquecíveis.
Eu não me recordo muito das brincadeiras que víviamos ele e eu, mas lembro do latido fino e irritante, e de como ele bagunçava tudo. 
Fui filha única até os 8 anos, e não era uma criança de brincar em rua ou de passear sempre na casa dos coleguinhas, mas também eu tinha apenas de 4 a 5 anos. 

Por isso, Gugu era meu melhor amigo, o confidente das minhas imaginativas brincadeiras que muitas vezes não faziam o menor sentido. Ele era a babá das minhas bonecas. Algumas vezes apenas o meu vigia. Sempre fui uma criança muito quieta, introspectiva. Não era de falar, pirraçar e nem de chorar. Eu era quase autista, mas não era. Apenas fui criada em um ambiente com muitos adultos, tornei-me uma criança séria, mas normal. Eu adorava conversar com pessoas de fora. E era muito perguntadeira. E desde sempre eu amei perder horas lendo, naquela idade os livros de colorir e repletos de figuras eram inseparáveis aos meus braços onde quer que eu fosse. Tive coleções destes. Porém, no meu dia-a-dia após escola, eu era quieta comigo, com meus eus, e meu bebê : o poodle. 

Mamãe vendia tortas por encomendas, tínhamos um bar. Certo dia, uma amiga dela que havia ido à nossa casa buscar algumas tortas tocou a campainha. Eu morava em apartamento nessa época, primeiro andar. 
O portão do nosso prédio era todo de gradeado, e havia um amplo vão que o impedia de tocar o chão. Foi por ali que Gugu escapuliu.
Estava eu sentada no sofá da sala distraída, não me recordo com o quê. A moça morena e alta entrou em direção à cozinha, onde minha mãezinha estava e a chamava. 
Vi ela sair com duas tortas em mãos, e em seguida minhã mãe gritou : "_ Feche a porta por favor fulana (não lembro o nome dela) ." 
Gugu não tinha um gênio nada comportado e sempre muito curioso adorava escapulir quando a oportunidade lhe surgia. 
A moça entrou e saiu várias vezes com suas tortas. Assim que ela se despediu, veio-me a vontade de brincar com Gugu. Ali começou o terror. Eu chamei-o e procurei por todos os lados, não demorei muito para chorar exageradamente desesperada. Sabe como é quando crianças choram para valer né? 
Minha mãe saiu aquela tarde para procurá-lo pelo bairro, mas não encontramos nada.
Havia algumas peculiaridades a se notar no bairro. 
Nosso bar ficava na mesma calçada do condomínio, umas 5 lojas depois da entrada. Após o bar, se encontrava outro estabelecimento, este de esquina. Uma avenida muito movimentada e do outro lado uma calçada, toda murada, atrás do muro existia todo um gramado. Era um campinho de futebol pitoresco, típico das "peladinhas" de bairro. Nesse muro um enorme buraco por onde se "cortava caminho" para adentrar no campo. Em frente à fachada do bar, outra rua extensa, com menor movimento de carros. Um grande galpão por grande parte da calçada do outro lado desta rua. A calçada formava um " L" onde na esquina, a avenida perdia-se em subida. 
No dia seguinte ao sumiço, andamos por toda a localidade atrás do Gugu, inclusive próximo ao grande galpão, no qual eu não tinha visto de perto, até esse dia. Na verdade, me limitavam a andar na calçada do meu portão, sendo vigiada por causa das ruas e da avenida perigosa, brincar no pátio do condomínio e ir com mamãe ao outro lado do campo ( que renderá outra postagem) . 
Depois de procurarmos muito, não encontramos o Gugu. Nem naquele dia, nem nos outros. Eu chorei muito por muito tempo, e ainda sinto-me culpada. 
Durante muitas semanas eu ficava à espreita na janela da sala ou debaixo do balcão do bar observando qualquer vestígio do Gugu. Toda vez que eu via a um poodle com alguém, eu queria sair correndo e agarrá-lo. Não tive sorte, perdi meu primeiro companheiro e animalzinho de estimação. Mas nunca irei me esquecer, dos seus olhos de jabuticaba, seus latidos altos, finos e irritantes e seu rabinho sacudidor toda vez que ele me olhava indo até ele.


Por, Rayanne Nayara.

Comentários

  1. quee triste Ray :(
    quando criança minha irmã tinha uma cachorrinha que nomiei de Lessie, eu amava ela brincava com ela sempre, quando ela se foi :( Eu fiquei mto tempo triste.. é impressionante a capacidade dos cães de amar qm os ama, isso eu nunca vo esquecer =)

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  2. "Say" é verdade! É justamente essa reciprocidade canina que nos faz se apegar tanto a eles. É díficil perder aquilo que amamos, seja animal, pessoa ou qualquer outra coisa.

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