As idas ao outro lado do campo.

Citei na última postagem uma breve caracterização do bairro onde eu morava quando perdi meu Gugu. 
Morávamos em Belo Horizonte, cidade de meu nascimento, no bairro de Eldorado àquela época.
Às manhãs, eu acordava cedinho para assitir desenhos na televisão. O "SBT" fez parte por um longo tempo bem marcado, da minha infância. Eu já conhecia todas as cenas de "Tom &Jerry", "Cavalo de Fogo", "Ursinhos Carinhosos" entre outros desenhos animados das minhas manhãs. Em seguida minha mãe que já acordava junto comigo, adentrava à sala arrumada e me aprontava para irmos à padaria. 
Não sei dizer se eu ía todos os dias ou se cheguei a recusar algumas vezes, mas eu me lembro algumas em que eu fui. 
Andávamos em meio aquela brisa doce da manhã mineira, aquele solzinho tímido de Belo Horizonte. Atravessávamos a extensa e movimentada avenida. Aquela avenida não dormia nunca! Imagino que o motivo talvez seja por ela ser uma avenida principal dos arredores. 

Havia um muro enorme que limitava a calçada ao campo de futebol do bairro. Era um grande campo, sem arquibancada, com suas marcações e traves. Todo rodeado de muro. 
Lembro-me que minha mãe dizia que era melhor cortarmos caminho pelo campo, pois demoraríamos muito dando a volta nele, e teríamos que atravessar mais ruas para chegar à padaria.
Engraçado como criança transforma coisas tão simples em coisas tão divertidas. Era a melhor parte da minha manhã : atravessar o buraco do muro. Caio nas risadas de imaginar e lembrar a minha sensação de felicidade. 
Depois que minha mãe levantava-me para atravessar a passagem, que era um pouco alta para meu tamanho e eu me deparava com toda aquela grama verde, brilhante e molhada de orvalho, um sorriso extenso caía em meu rosto. Algumas vezes eu soltava a mão da minha mãe e saía correndo pelo gramado brincalhona. Outras eu me contia a admirá-lo, olhar para o céu e desafiar a minha visão encarando os raios solares. Depois surgiam aquelas bolinhas coloridas em frente aos meus olhos, tudo ficava repleto de focos de várias cores e formas. E eu sorria . 
Chegávamos do outro lado, atravessávamos o outro buraco e estávamos em frente a calçada da padaria. Atravessávamos à rua e pronto : quantas pessoas! 
Pessoas andando por todos os lados. A padaria, que não era pequena, tão movimentada! Compravámos o pão e a minha mãezinha sempre me comprava um doce, em um dia era uma bala, no outro um chocolate, mas o que eu mais adorava era um pirulito que virava helicóptero, tinha também aqueles que se colocavam no dedo. Eu colecionava alguns. Doce infância, doce mesmo!
Ainda guardo na memória as imagens, meio turvas, da minha mãe entregando o dinheiro e da moça do caixa que sempre se despedia de mim com um sorriso muito acolhedor. Talvez fosse uma conhecida da minha mãe, afinal tínhamos um bar e muitas pessoas conheciam-nos, eu é que não me lembro muito de todos. E depois, íamos todos os dias à padaria, logo, ela deveria conhecer-nos. 
Seguíamos o mesmo caminho de volta e depois do gramado verde e de atravessar novamento o espaço no muro, não me recordo de mais nada. Não me lembro de como eram os cafés das manhãs, se eu continuava a ver os desenhos, ou o quê eu fazia depois. Mas o ínicio daquelas manhãs, foram lindos, importantes e marcantes para mim. Não apenas pela "aventura" que eu formava na minha cabeça, mas principalmente, porque era um daqueles momentos só "eu e minha mãe." Vivíamos aquela "aventura" juntas. E isso é inesquecível. Esse é o gostoso da vida, momentos singelos que passam despercebidos para todo um mundo, mas que para uma ou duas pessoas, são os melhores momentos dela.


Por, Rayanne Nayara.

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